Ensaios de outras vidas

Eu posso te ver e gritar o teu nome, mas é o silêncio que domina o ambiente. Minha voz é muda perante os teus ouvidos. Meu corpo é invisível perante os teus olhos. Meus escritos são breves notas que não passam pelas tuas mãos.
Eu vago no tempo ao redor de ti, em espiral.
Te encontrei num nada azul. Giramos, giramos, gritamos. Para onde vamos?
Você foi.
Cartas e devaneios, quase memórias. O que aconteceu naquele tarde? Ou era noite? Talvez fosse julho. Você partiu e as memórias se despedaçaram.
Não sou quem fui, não sei quem sou.
Preciso juntar os pedaços para preencher os espaços, lacunas de vidas.
Um punhado de incertezas toma conta e talvez eu esteja misturando a realidade com a fantasia. Nós enlouquecemos?

O espelho de Alice

Meu olhar atravessou o espelho em busca de algo além de pele e ossos, porém não havia nada do outro lado, não havia ninguém. O desencanto tomou conta: aquele não era o mesmo espelho que Alice atravessara, era apenas metal e vidro comum refletindo em 38kg a falta de uma identidade, de um alguém.

Palavras frias soaram do meu interior completando o meu desconforto, mentindo-me que apenas essa busca incessável por quilos negativos me tornará invisível a dor.

Eu reconheço que a minha mente é paraíso de delírios utópicos, porém rendo-me a ela como quem não quer conhecer a verdade. São as mentiras encantadoras que dão-me coragem para seguir em frente enquanto o mundo desaba ao meu redor.

Minha força advém da autodestruição.